Foram minutos, horas, dias e uma semana de pura mudança aqui em São Paulo. A quarentena nos pegou de surpresa, fazendo de nossas vidas uma revolução. Não compreendemos o quanto de informação que eram divulgados sobre o real perigo do Corona, ainda assim chamado na época. A semana da grande transformação começou no dia 16 de março quando algumas faculdades começaram a fechar e divulgar que precisávamos de um isolamento social. Já tínhamos alguns casos em nossa cidade, porém, como nosso governo deixou de fazer uma primeira contenção, eu tinha o sentimento que nada de perigoso estava acontecendo.
Os primeiros casos de Covid-19 no Brasil foram em fevereiro e até então me sentia seguro, pois tinha voltado em janeiro de uma viagem à Suíça e tínhamos alguns comentários sobre a política mundial, sem nenhuma ação preventiva forte.
Na verdade, estava bem esperançoso que aqui no Brasil o cenário fosse bem diferente: como nosso clima e atmosfera tem uma natureza diferente do que na Europa e estávamos em pleno verão, pensava que teríamos alguns casos e pudéssemos manter nossas vidas cotidianas.
Meu pensamento começou a mudar quando me encontrei com Cito e Habiba no Brasil no dia 13 de março. Eles estiveram aqui para um seminário e para os trabalhos espirituais em Cumuruxatiba. Eu estava feliz de encontra-los, pois em abril teríamos um treinamento em meu Instituto e almejava, neste tempo, construir novas ideias com eles.
Percebia em nossa conversa sempre uma tensão, uma certa angústia quando tocávamos no assunto vírus. Cito mencionava os mitos de Nanã e Habiba, com seu jeito alegre, comentava sobre Cito ser "idoso". Por mais que falássemos de outros temas, vez ou outra voltávamos a tocar neste assunto.
Nosso seminário foi muito bem executado e navegamos sobre as ideias que tínhamos dos vírus com os participantes. Existia uma certa tensão, porém nada declarado. Ninguém ao certo tinha uma posição e algumas mensagens de amigos, colegas fora do Brasil e algumas autoridades locais vindas do Instagram, Facebook e Whatsapp eram incertas e algumas pessoas já falavam em quarentena por causa do que estava ocorrendo na Espanha e na Itália. Já eram noticiadas mortes e havia o chamando ao Isolamento social.
No domingo, dia quinze, eu recebi um comunicado da faculdade que teríamos uma semana de aulas em casa, com a finalidade de manter as pessoas seguras e sem risco de contaminação.
Então, a partir deste momento, minha vida como empresário, terapeuta, filho, amigo e amante foi rapidamente transformada. Nos dias 21 e 22 de março haveria o último módulo do treinamento em Constelação Familiar e precisava o mais rápido possível tomar uma decisão sobre essa data.
Ainda na segunda-feira, dia 16 de março, não havia um direcionamento do governo. Mandei uma mensagem para meus alunos, para que juntos pudéssemos tomar essa decisão. E assim foi feito e decidimos adiar o nosso encontro. Percebi que eu precisava tomar um posicionamento rápido para que, de alguma forma, pudesse diminuir o impacto financeiro. Sabia que como terapeuta, eu estou a serviço da vida. E agora também sou empresário e, tendo um instituto, eu precisava de uma estratégia para manter meus parceiros, clientes e colegas.
Então, na terça-feira, dia 17 de março, como eu precisava de um panorama amplo e responsável, decidi conversar com Carlos, um amigo que trabalha com meio ambiente na Assembleia Legislativa. E ele me trouxe todas as informações acerca da periculosidade do vírus e sua velocidade.
Sabemos que nosso sistema de saúde é precário e tínhamos o exemplo da Itália como progressão negativa. Tomei todas as medidas, suspendo os treinamentos e encontros de grupo, já que é esta a minha especialidade. A partir de quarta-feira tínhamos que nos comunicar com os pacientes, diminuir o acesso ao Instituto e começar a pensar em trazer acolhimento para todos que sentissem necessidade.
Foi nessa mesma data que recebi uma mensagem da Habiba dizendo que era preciso voltar à Suíça, que as coisas na Bahia estavam “fervendo” e o melhor, naquele momento, politicamente falando, era o seu retorno. Eu sabia que o seu retorno era mais seguro, ela não estava em sua terra-mãe, mesmo ciente de sua intimidade com grupos no Brasil.
Neste mesmo dia recebemos a notícia de um decreto da prefeitura que determinava o fechamento do comércio. Essa foi realmente a concretização da minha conversa com Carlos. No dia seguinte, na quinta-feira, começamos o processo de fechamento do Instituto.
Minha última paciente presencial foi na quinta-feira quando eu mesmo fechei o consultório, passei a atender “on-line”.
Sexta-feira, dia 20 de março, passamos a trabalhar de casa, a assistir às noticias - que eram assustadoras -, mas não sabíamos realmente o que estava acontecendo, sem números suficientes sobre a pandemia.
Meu papel foi o acolher aos meus pacientes e levar informações que realmente fizessem sentido. Para isso, eu tinha conexão com o Carlos, com a Dra. Rita, psiquiatra, e o Dr.Felippe Caquetti, para manter-me atualizado, para que tivesse informações que levassem a algum direcionamento.
Em uma atmosfera de medo estávamos unidos para nos protegermos. A partir disso, eu tive a ideia de começar a levar informações positivas para todos aqueles que precisassem refletir sobre o Covid-19. Convidei alguns amigos para gravarem vídeos sobre o assunto e, por óbvio, foi Carlos o primeiro a ajudar, promovendo reflexões sobre o meio ambiente, ele nos trouxe informações sobre este mundo dos microrganimos e coexistências de animais, virus e bactérias.
No domingo, eu ainda estava mandando mensagens para meus pacientes sobre as novas condutas a serem tomadas, até mesmo sobre os atendimentos. Convidei outros amigos para falar sobre esse assunto.
Na segunda seguinte já tínhamos notícias de empresas demitindo os seus funcionários, cortes de salários, as empresas aéreas diminuindo cada vez mais a sua atuação e muitos dos pacientes com medo de continuarem seus processos, sem saber o que aconteceria com os seus salários e, portanto, com o futuro.
Os supermercados foram a bola da vez, tínhamos o racionamento do álcool em gel, já não havia máscaras e o papel higiênico seria o salvador desta pandemia. Bastava achar esses três itens para que você pudesse se sentir privilegiado e seguro. Só aqueles que realmente estavam a salvo...hahahaha.
Dia 31 de Março nosso Presidente fez um pronunciamento pedindo para que fizéssemos uma quarentena com isolamento vertical, contradizendo todos os governadores e até mesmo nosso Ministro da Saúde. Sua preocupação é com a economia, o que pra mim demonstra uma atitude perversa com seu povo, já que seu exemplo é o dos Estados Unidos que até então desdenhava a ameaça que estava prestes acontecer em seu país. Essa atitude equivocada mais uma vez dividia o país e trouxe conflito entre a classe média. Alguns devotos da quarentena e outros desesperados, com medo de perderem suas empresas.
Hoje é dia 07 de Abril e muito foi movimentado durante esta semana, o auxílio de emergência foi aprovado e está sendo liberado para os trabalhadores, ainda estamos lidando com a birra do nosso presidente e seu conflito velado com nosso ministro, nesse período eu tive o prazer de fazer aniversário, fiz meu primeiro encontro internacional com a Habiba, Cito e Konstanze, estou começando a gravar sobre luto, que será meu novo tema. Fiz uma entrevista com um ex-monge e foi super interessante.
Passamos por uma semana intensa em que 5 anos foram conquistados em uma semana, ainda não conseguimos realmente tocar em quais serão as consequências no futuro.
Dessa maneira, quero dizer que nosso tempo foi tirado de nós e outro tempo começa a surgir. Talvez seja uma oportunidade de construir uma vida mais simples, usando melhor nossa tecnologia e mostrando para nós que, de alguma maneira, podemos, sim, trabalhar por um mesmo propósito